Um Campo magnético é uma região do espaço onde se manifesta o magnetismo, através das chamadas acções magnéticas. Estas acções verificam-se à distância e apenas algumas substâncias são influenciadas pelo campo magnético.

terça-feira, junho 21

Os Album da minha semana foram muito calmos e contemplativos, nada de grande sobressaltos, não é altura para isso...

1. Elliott Smith - Figure 8 (2000)
2. Devendra Banhart - Rejoicing in the Hands (2004)
3. Radiohead - Kid A

As músicas ouvidas em replay:

1. Elliott Smith - Everything Reminds Me of Her
2. Bonnie "Prince" Billy and Matt Sweeney - Blood Embrace
3. M.I.A. - Pull Up The People

quarta-feira, junho 15

VEGETAL E SÓ

É outono, desprende-te de mim.

Solta-me os cabelos, potros indomáveis
Sem nenhuma melancolia,
Sem encontros marcados,
Sem cartas a responder.

Deixa-me o braço direito
O mais ardente dos meus braços,
O mais azul
O mais feito para voar.

Devolve-me o rosto de um verão
Sem a febre de tantos lábios,
Sem nenhum rumor de lágrimas
Nas pálperas acessas.

Deixa-me só, vegetal e só,
Correndo como rio de folhas
Para a noite onde a mais bela aventura
Se escreve exactamente sem nenhuma letra.


in «As palavras Interditas» (1951)
de Eugénio de Andrade

segunda-feira, junho 13

ADEUS

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes
E eu acreditava.
Acreditava.
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.

Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor
já se não passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.

Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus.


Eugénio de Andrade
in «Os Amantes sem Dinheiro» (1950)
AS PALAVRAS INTERDITAS

Os navios existem e existe o teu rosto
encostado ao rosto dos navios.
Sem nenhum destino flutuam nas cidades,
partem no vento, regressam nos rios.

Na areia branca, onde o tempo começa,
uma criança passa de costas para o mar.
Anoitece. Não há dúvida, anoitece.
É preciso partir, é preciso ficar.

Os hospitais cobrem-se de cinza.
Ondas de sombra quebram nas esquinas.
Amo-te... E entram pela janela
as primeiras luzes das colinas.

As palavras que te envio são interditas
até, meu amor, pelo halo das searas;
se alguma regressasse, nem já reconhecia
o teu nome nas minhas curvas claras.

Dói-me esta água, este ar que se respira,
dói-me esta solidão de pedra escura,
e estas mãos noturnas onde aperto
os meus dias quebrados na cintura.

E a noite cresce apaixonadamente.
Nas suas margens nuas, desoladas,
cada homem tem apenas para dar
um horizonte de cidades bombardeadas.


in «As palavras Interditas» (1951)
de Eugénio de Andrade

Os albums que mais tocaram esta semana:

  1. Smog - A River Ain't Too Much to Love (2005)
  2. The Decemberists - Picaresque (2005)
  3. Death From Above 1979 - You're A Woman, I'm A Machine (2004)

As músicas da semana:
  1. Smog - Let Me See The Colts, de "A River Ain't Too Much to Love"
  2. Death From Above 1979 - Romantic Rights, de "You're A Woman, I'm A Machine"
  3. Smog - The Well, de "A River Ain't Too Much to Love"

até

domingo, junho 5

Abandono-me ao ver-te de tal forma como eu sou que desejo que tudo continuasse assim, sem respirar, sem pestanejar, sem saber sequer para que lado me virar, assim indeciso, cheio de dúvidas e desatenções no caminho que intento seguir, riscando elipses pelo percurso e geometrizando a tua face sobrepondo-te os papéis e vendo-te cúbica, assim te toco as arestas e aconchego-te os vértices sem pensar sequer, sem respirar porque é uma perda de tempo desviar-me de ti, porque é mesmo um exercício de concentração no qual me perco tantas vezes que já lhes perdi a conta, assim sem nada pensar, sem nada respirar tento pronunciar cada frase mental de uma só vez, em exercícios de arrastamento que focam o movimento enérgico das palavras, apenas te inspirar naturalmente como se não te visse nem fosses tu o que vejo, dispo-te mais vezes ainda sem contar nem expirar para te manter aqui dentro de onde não possas sair, para que não valha a pena lutares porque não te vou largar, nem vou deixar que me espalhes nas memórias perdidas que cultivas em espirais tangentes ao círculo que vou desenrolando ao mesmo tempo que marco caminho, porque em ti me abandono enquanto imagens sincopadas me colorem o preto e branco reais, e são rápidos os segredos que me acompanham o pensamento, porque ao ver-te de tal forma como eu sou não me vejo eu mas como és assim, um rasgo rápido.


Texto de Patrícia Espinha

sexta-feira, junho 3

ROSTO


Rosto nu na luz directa.

Rosto suspenso, despido e permeável,
Osmose lenta.
Boca entreaberta como se bebesse,
Cabeça atenta.

Rosto desfeito,
Rosto sem recusa onde nada se defende,
Rosto que se dá na angústia do pedido,
Rosto que as vozes atravessam.

Rosto derivando lentamente,
Pressentimento que os laranjais segredam,
Rosto abandonado e transparente
Que as negras noites de amor em si recebem.

Longos raios de frio correm sobre o mar
Em silêncio ergueram-se as paisagens
E eu toco a solidão como uma pedra.

Rosto perdido
Que amargos ventos de secura em si sepultam
E que as ondas do mar puríssimas lamentam.


Sophia de Mello Breyner Andresen