terça-feira, dezembro 12
segunda-feira, agosto 28
Adeus
Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.
Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.
Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.
Adeus.
Eugénio de Andrade
sábado, agosto 19
Não posso começar por dizer o teu nome
é um espécie de interdição
o teu nome diz-te como se pudesse ser o teu nome
não quero perder-te não
não te quero encontrar na luz da minha linguagem
não posso distinguir-te através do nevoeiro
de uma cidade abandonada
de um porto escuro sem abrigo
tu não és uma mulher nem um corpo nem uma auréola
conheço-te como se tivesse perdido
como se não pudesse perder-me
como se não tivesse medo
de me perder
na intensidade da noite
na nudez imensa
de uma cidade abandonada
(eu tinha fugido de uma tribo
onde voltava sempre
de onde não podia fugir
interminavelmente
de onde fugia
sem poder fugir)
só para ti eu escreveria este poema
que os outros qualificariam como entenderiam
só tu o receberias
como se não o pudesses qualificar
Maria Isabel
é um espécie de interdição
o teu nome diz-te como se pudesse ser o teu nome
não quero perder-te não
não te quero encontrar na luz da minha linguagem
não posso distinguir-te através do nevoeiro
de uma cidade abandonada
de um porto escuro sem abrigo
tu não és uma mulher nem um corpo nem uma auréola
conheço-te como se tivesse perdido
como se não pudesse perder-me
como se não tivesse medo
de me perder
na intensidade da noite
na nudez imensa
de uma cidade abandonada
(eu tinha fugido de uma tribo
onde voltava sempre
de onde não podia fugir
interminavelmente
de onde fugia
sem poder fugir)
só para ti eu escreveria este poema
que os outros qualificariam como entenderiam
só tu o receberias
como se não o pudesses qualificar
Maria Isabel
quarta-feira, março 1
Março voltou
Março voltou, esta
ácida loucura de pássaros
está outra vez à nossa porta,
o ar
de vidro vai direito ao coração.
Também elas cantam, as montanhas:
somente nenhum de nós
as ouve, distraídos
com o monótono silabar do vento
ou doutros peregrinos.
Já sabeis como temos ainda restos
de pudor.
e pelo mundo
uma enorme, enorme indiferença.
Eugénio de Andrade
Que música escutas tão atentamente |
Que música escutas tão atentamente que não dás por mim? Que bosque, ou rio, ou mar? Ou é dentro de ti que tudo canta ainda? Queria falar contigo, dizer-te apenas que estou aqui, mas tenho medo, medo que toda a música cesse e tu não possas mais olhar as rosas. Medo de quebrar o fio com que teces os dias sem memória. Com que palavras ou beijos ou lágrimas se acordam os mortos sem os ferir, sem os trazer a esta espuma negra onde corpos e corpos se repetem, parcimoniosamente, no meio de sombras? Deixa-te estar assim, ó cheia de doçura, sentada, olhando as rosas, e tão alheia que nem dás por mim. Eugénio de Andrade (Coração do dia) |
quinta-feira, janeiro 19
domingo, janeiro 8
I Don't Want to Get Over You
I don't want to get over you.
I guess I could take a sleeping pill and sleep at will
And not have to go through what I go through.
I guess I should take Prozac, right,
And just smile all night at somebody new,
Somebody not too bright but sweet
And kind who would try to get you off my mind.
I could leave this agony behind which is just what I'd do if I wanted to,
But I don't want to get over you cause
I don't want to get over love.
I could listen to my therapist, pretend you don't exist
And not have to dream of what I dream of;
I could listen to all my friends and go out again and pretend it's enough,
Or I could make a career of being blue
I could dress in black and read Camus,
Smoke clove cigarettes and drink vermouth like I was 17 that would be a scream
But I don't want to get over you.
Stephin Merritt
I don't want to get over you.
I guess I could take a sleeping pill and sleep at will
And not have to go through what I go through.
I guess I should take Prozac, right,
And just smile all night at somebody new,
Somebody not too bright but sweet
And kind who would try to get you off my mind.
I could leave this agony behind which is just what I'd do if I wanted to,
But I don't want to get over you cause
I don't want to get over love.
I could listen to my therapist, pretend you don't exist
And not have to dream of what I dream of;
I could listen to all my friends and go out again and pretend it's enough,
Or I could make a career of being blue
I could dress in black and read Camus,
Smoke clove cigarettes and drink vermouth like I was 17 that would be a scream
But I don't want to get over you.
Stephin Merritt
há sempre uma música certa para uma altura certa... Esta letra é das melhores de sempre e vai continuar a ser... até que haja música. Não é que seja uma obra prima literaria, nem é que se desdobre em muitas figuras estilisticas... mas não é fácil escrever sobre certas situações e manter a sobriedade. Escrever músicas ao balcão... assim é que deveria ser sempre.
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